Pictogramas, Comunicação Internacional e Diversidade Cultural #1

O mundo cada vez mais parece um lugar menor onde se faz necessário formas de comunicação que atravessem barreiras linguísticas e culturais. Mas isso significa que os pictogramas, cuja uma das principais funções é propiciar a comunicação entre pessoas de diferentes nacionalidades, não podem ter qualquer personalidade individual? Se as línguas podem ter sotaques e dialetos, porque não os pictogramas? É possível que os pictogramas sejam eficazes na comunicação mas tenham características próprias?

Para iniciar essa discussão, o que são pictogramas? Alguns autores/estudos sobre o assunto conceituam:

Otto Neurath – Um elemento de um sistema de validade absoluta;
Otl Aicher – Ele deve ter o caráter de um sinal e não deve ser uma ilustração;
HW Kapitzki – É um signo icônico que representa o caráter do que está sendo representado;
Transport for London – O propósito de um pictograma é tornar nossa vida mais fácil e mais segura. Um pictograma de trabalho deve ser imediatamente reconhecível e compreendido por todos. Portanto, a imagem deve ser simples e consistente.

História

A ideia de uma linguagem pictórica internacional não é algo novo, nem o uso de imagens para se comunicar. Imagens são anteriores a interpretação tipográfica da linguagem falada como um meio de comunicação de informações.

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Mas a o que se pode considerar como pioneiro no ato de comunicar foi pensado pelos sumérios, por volta de 3500 ac. Eles gravaram as histórias, preservando os registos, utilizando desenhos simples de objetos do cotidiano (que podem ser considerados os primeiros pictogramas). Muitas civilizações antigas usaram imagens descritivas para comunicar uns com os outros, contar histórias ou criar identidade. Hieróglifos e brasões de armas são alguns exemplos, mas estas formas de comunicação pictórica tinha muito pouco a ver com o desenvolvimento da comunicação entre povos diferentes ou de atingir um maior número de leitores/usuários. O seu objetivo era simplesmente propiciar comunicação entre indivíduos conhecidos e fazer registros.

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Num salto temporal dentro dos antecedentes históricos, os sistemas de transporte desempenharam um papel importante no desenvolvimento de pictogramas. Em 1909, a primeira convenção internacional sobre os sinais de trânsito foi organizada em Paris, onde os quatro primeiros sinais de trânsito comuns foram padronizados. Era o início de uma série de convenções, protocolos e projetos. Aeroportos e estações de trem são espaços de intercâmbio internacional e pictogramas apresentam-se a solução perfeita para as barreiras de comunicação possível.

A noção de uma língua internacional sempre fascinou e muitas vezes implicou a criação de novas línguas faladas ou escritas. Exemplos incluem o Esperanto, entre outras, mas foi só na década de 1930 com o trabalho de Otto Neurath que imagens foram pesquisadas com profundidade e usadas para a comunicação internacional. Com a ajuda do ilustrador Gerd Arntz, Neurath produziu o Isotype (International System of Typographic Picture Education). Trata-se de diagramas internacionalmente estilizados, gráficos, ilustrações, textos e informações públicas (ver post). O trabalho de Neurath pode não ter atingido seus objetivos, mas é, até hoje, uma fonte de inspiração para muitos designers gráficos e tem contribuído para o desenvolvimento de pictogramas e, indiretamente, para o surgimento da infografia.

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Na década de 1970, Otl Aicher afirmou que pictogramas devem ser culturalmente neutros e não ofender tabus culturais e também sugeriu que pictogramas tornam-se mais familiares quando mais abstratos. Em contraposição, Mijksenaar salienta que nessa época um dogma foi criado na sinalização de aeroportos ao sugerir que pictogramas servem apenas para produzir ruído na comunicação e são inferiores, ao serem vistos como um texto ambíguo. Neste contexto, em 1967, um sistema novo sinal para aeroporto de Schiphol (Amsterdã – Holanda) que não incluía pictogramas mostrou-se eficaz e manteve-se inalterado até o início dos anos 90. Mais recentemente, porém, alguns sistemas começaram a romper com regras e perceber o potencial das imagens. O projeto de Toan Vu-Huu para o Aeroporto de Colonia Bonn (Alemanha) mostra uma grande mudança a partir de trabalhos anteriores.

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Indústria e produção também tem desempenhado um papel importante na ascensão do pictograma. Eles começaram a aparecer em conexão com diversos produtos industriais, no final dos anos 60 e início dos anos 70, em eletrodomésticos e equipamento audiovisual das empresas Siemens e Philips e dos automóveis da Toyota. Os fabricantes perceberam o potencial de pictogramas em seus manuais de instrução. Logotipos e identidades corporativas, embora não sejam pictogramas, usam o mesmo princípio básico. Houve uma evidente vantagem econômica em apenas ter de produzir uma versão multilíngue para os manuais de instruções de montagem e uso, bem nos próprios produtos, com representações pictóricas para comunicar informações. Por exemplo, as empresas Ikea e Hewlett-Packard usam apenas algumas palavras em suas instruções de montagem.

Os Jogos Olímpicos têm milhares de pictogramas associados a eles. Com o verão, o inverno e os jogos paraolímpicos, a quantidade de recursos em pictogramas é quase infinita. Não existem apenas pictogramas representando os esportes individuais, mas também serviços e instalações e, em alguns jogos, símbolos culturais também. Os jogos de Berlim em 1936 trouxeram os primeiros pictogramas olímpicos e, mais uma vez, foi criado um conjunto para as Olimpíadas de Londres de 1948, mas o verdadeiro impulso para pictogramas semelhantes ao conceito moderno foram os Jogos Olímpicos de 1964 em Tóquio. Daquele ponto em diante, o desenho dos pictogramas olímpicos foi fortalecido. Entre os exemplos mais famosos estão o trabalho de Lance Wyman no México em 1968 e Otl Aicher em Munique em 1972.

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Ideogramas, hieróglifos e símbolos perderam terreno durante séculos, com o avanço e aumento da alfabetização. De certa forma, criou-se um estigma, associando pictogramas aquelas pessoas de menor inteligência ou que eram analfabetos. Agora, porém, os pictogramas estão mais populares do que nunca. Em todo o mundo da mobilidade e as comunicações internacionais, seus usos parecem intermináveis​​. Mas eles atendem às nossas expectativas e eles vão resistir ao teste do tempo?

Continua em Pictogramas, Comunicação Internacional e Diversidade Cultural #2

Adaptado do conteúdo do site Wayfinding_UK’s Blog

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